domingo, 25 de abril de 2010

E fez-se luz...


A Fundação EDP apoiou as comemorações do 25 de Abril em Fridão.

Pura coincidência!

Não acredito que o autarca local que até já se manifestou contra a construção da barragem de Fridão- mas que em Assembleia de Freguesia não responde às questões que lhe são colocadas sobre a mesma;que não promoveu uma única iniciativa na freguesia para esclarecimento da população; que nunca informou a população sobre contactos com a EDP- tenha ido mendigar uns euritos para a realização das comemorações do 25 de Abril!
Até porque em anos anteriores sempre se comemorou e com um programa em tudo coincidente com o de 2010 e nunca se fez sentir a falta de apoios daquela envergadura!

Seria esclarecedor sabermos qual foi realmente o contributo da Fundação EDP!

Já...que se faz tarde!

O 25 de Abril continua vivo!
A prová-lo estão as festas alusivas que, um pouco por todo o lado animam este dia!
O povo português com mais ou menos meios, sai à rua; as canções de abril ecoam nas montanhas, nos vales e nas planícies; sucedem-se as iniciativas culturais e desportivas.
À semelhança das comemorações oficiais, salvaguardadas as específicas importância e dimensão do lugar, comemora-se a preceito a revolução dos cravos.


Muitas vezes em festas organizadas por eleitos que regam os cravos com água salgada!

E aproveitam as festitas como operações de charme que renderão votos em futuras eleições, mascarando com o fervor revolucionário a verdadeira actuação prepotente e demagógica de todos os dias!


Valha-nos a a genuina adesão do povo!

25 de Abril JÁ...!

sábado, 3 de abril de 2010

Uma Janela,Uma Serra, Um Vale e Um Rio...

A Sombra do Tâmega

Minha santa janela, onde eu medito
E digo adeus ao sol e falo ao vento…
E saúdo a aurora e leio no Infinito
E sinto, às vezes, um deslumbramento!

Vejo, de ti, a Serra e aquele val’,
Onde aparece a imagem indecisa
Dum rio de águas mortas, espectral,
Que, entre sombrias árvores, desliza.

E vejo erguer-se o rio cristalino,
Transfigurado em sonho ou nevoeiro…
E faz-se eterno espírito divino
Aquele corpo de água prisioneiro.

Ó láctea emanação! Ó névoa densa!
Ó água aberta em asa! Ó água escura!
Água dos fundos pegos, no ar, suspensa,
Vestida, como um Anjo, de brancura!

Água gélida e negra, que te elevas,
Qual fantasma, no Azul, que desfalece!
Ó claro e heróico sol, que vence as trevas,
Porque será que, ao ver-te, empalidece?

Ó água d’além túmulo! Água morta!
Ó água do Outro Mundo! Aparições
De neblina, entre as trevas… Absorta
Paisagem povoada de visões…

E enchendo todo o espaço de esplendores,
De desmaios, de síncopes e mágoas,
Diluindo tudo em místicos alvores,
Ergue-se a sombra lívida das águas…

Quantas vezes, de ti, boa janela,
Eu lhe falo e a interrogo… E, com certeza,
A tua sombra, ó água, é irmã daquela
Que anda em meu coração, e é só tristeza…

Ei-la a pairar na humana solidão
Infinita da noite, quando as cousas
São quimérica e estranha emanação
De silêncios e névoas misteriosas…

Ei-la que paira, ouvindo a voz da lua,
E a voz louca do vento e as ansiedades
Das sombras, que, na terra branca e nua,
Parecem desenhar profundidades…

Ei-la a pairar nas trevas que em nós deixam.
Nas almas e nas pedras da lareira,
Os olhos lacrimosos que se fecham
E dão, em vez de luz, cinza e poeira…

Bem mais do que neste ar, que se respira,
Pairas na minha alma… E com teus dedos
De penumbra, arrebatas minha lira,
Ó Tâmega de sonhos e segredos!

E vais compondo versos de neblina
às árvores do monte, à dura frágua…
Elegias de orvalho à luz divina,
Endeixas de remanso e cantos de água…

E sobes, a voar… E, num sombrio
Gesto de asa, percorres as Alturas!
E molhas minha fronte, aéreo rio;
E, através dela, sonhas e murmuras…

Ó bendita janela, entre as janelas,
Onde fala comigo a luz do luar,
E a claridade viva das estrelas
Que traz, em sangue, os pés de tanto andar!

Bendita sejas tu, ó sempre aberta
Sobre o meu coração e estes outeiros,
E esta noite fantástica e coberta
De espectros, de visões e nevoeiros!

Teixeira de Pascoaes (Joaquim Pereira Teixeira de Vasconcelos), (n. Amarante, 2 de Nov. de 1877 – m. 14 de Dez. de 1952)